domingo, 13 de novembro de 2011

Der himmel ist schön, nicht wahr?

A menina ajeitava o cabelo e segurava um livro entre os dedos, o rosto encheu-se quando viu ali, em tua frente um menino de cabelos ruivos, os olhos verdes a observava, era Peter tinha um sorriso ofuscado e escondia-se por detrás do sol que cobria toda a aquela velha cidade. Frankie, deu a primeira palavra.
-Hallo, Dumm. Como está? Ela soava prepotente com as palavras em alemão. A língua a qual aprendera desde criança. 
-Insiste em alemão hein, Saumensch?
-Oras,  mas você também. Respondeu rápido.
-Der himmel ist schön, nicht wahr, Dumm? Não está? Concorde. A menina sorria fria, procurando alguma coisa nos lábios rachados de Peter. A dor atravessava todo aquele riso assíduo que o menino dava, só para congestionar os pensamentos da menina. Na verdade, ela estava certa, o céu estava realmente muito bonito, aliás, sempre estava. E olhe que a moça, não tinha lá um bom gosto.
-É, está mesmo. Você me parece tão ungeuldg,  o que houve?
-Não estou impaciente, idiota. Só você que está vendo coisas. Seinen alten! Gritou soando toda a raiva que tinha dentro do peito.
-Não me xingue, sei que me amas desde que me viu. –Isso era verdade. Só era muito cedo para se afirmar.-
-Quem disse isso? Hein? O rosto ficou vermelho e os olhos perdiam o rumo. Was zur Hölle! A menina rugiu.
-Te controle, Saumensch. Tantas palavras feias, não te levaram a canto algum. Ele disse querendo parecer a pessoa mais calma do mundo, falhou. O coração da moça batia forte e ela dava risinhos para desviar que era verdade, deu um olhar arrogante para um homem que passava na rua, temendo que ele voltasse e lhe enfiasse os dedos no meio da cara e lhe arrancasse toda a sanidade com um só olhar. Deu mais uma olhadela para o Himmel e esperava muito contemplar alguma coisa bonita que surgisse de lá.
-Vamos me dê um lächeln. Já.
-O que tu queres com um sorriso meu? A menina perguntava com olhar ainda enraivado. E era mesmo, muitíssimo impaciente, Peter estava certo, sempre estava. E Frankie odiava o fato disso ser verdade –sempre era.
-Então me dê um Umarmung. Vai me dar? Hum? Tentou dar um riso doce, mas falhou, sempre falhava. O cabelo ruivo estava sendo levado pelo vento, a rua Blumen estava o suficientemente vazia, para que Frankie pudesse entrelaçar seus braços no de Peter sem se envergonhar, ou se irritar com qualquer Saukerl que pudesse aparecer na rua e a irritar com piadinhas bestas de criança.
-Tu vistes que abriu um café novo? Frankie mudou de assunto. Queria parecer um pouco mais sensata e mais doce, convidando-o para um café, tinham apenas treze anos de idade. Se xingavam como se tivessem dezoito, e agiam como crianças de nove. Sabe se lá, quantos anos realmente tinham.
-Um café ao lado da filha de Hitler? Eu não quero não.
-Isso foi um insulto? Was zur höllen, Saukerl! O rosto mais uma vez se enraivou.
-É tão estranha quanto ele, é sempre o contrário, Hitler penteava o cabelo para o lado contrário, e você, Saumensch, faz o mesmo. Só falta um bigode. Ele fez graça. O rosto de Frankie ficou vermelho, azul, amarelo, e depois voltou a cor normal. A menina era tão explosiva, parecia até mesmo um bomba prestes a estourar e causar um caos tão grande, que nem a própria reconhecia. Ela engoliu quieta e fez silêncio.
-O que tens? Ele tentava puxar assunto com a moça estressada. Deu um sorriso desdenhoso e desviou o olhar pra cima, enquanto observava as pernas machucadas de Frankie. Peter respirou fundo e esperou, quase vinte segundos depois a menina foi responder, os vinte segundos pareciam muito mais, pareciam infinitos vinte segundos, trezentos, talvez.
-Traurigkeit. Ela respondeu com a voz áspera. E que diabos está olhando para minhas pernas? A menina acrescentou.
-Caiu feio, hein, Saumensch? Ele dizia apontando para um machucado com um band-aid que estava caindo. Peter seguiu os dedos até o machucado e puxou o curativo.
-Saukerl! Saukerl! Vá se… Não terminou. A menina gritou alto, e a vizinha fez o favor de abrir a janela e gritar ao sete ventos:
-Cala-te, Saumensch, cala-te. Frankie olhou os mesmos olhos arrogantes e logo voltou o olhar para Peter, que soltava risadas estridentes. O machucado sangrava.
-Não acredito que fez isso… Que vontade de enfiar a mão na sua cara, menino, que raiva. O rosto ficava vermelho de novo. E então ele repetiu:
-Der himmel ist schön, nicht wahr? Frankie olhou para o céu e depois desviou o olhar para os cabelos ruivos do menino, respirou fundo e balançou a cabeça, fazendo sinal que sim. A menina olhou nos olhos de Peter e sem desviar o olhar, touco-lhe os cabelos. E logo depois deu uma olhadela para o céu. Pareciam dois garotos rabugentos e irritantes, a alma dos dois gritavam, um menino que era mais atentado que sabe se lá quem, e uma menina que tinha tampouco os modos que a mãe poderia trancafiar ela dentro de um quarto escuro e ninguém sentiria falta. Ninguém além do menino chato. Ficaram em silêncio por quase três minutos, as nuvens do céu já sorriam em uma outra rua e os pássaros já estavam dormindo. O sol ainda ardia, mas as janelas estavam todas fechadas.
-Está sangrando, viu o que você fez? Frankie dizia olhando para as pernas que escorriam sangue.
-Daqui a pouco tua mãe te puxa pra dentro de casa e joga álcool nisso aí.
-Não. Ela não faz isso, ela lavaria com sabão e depois dava alguns assopros sussurrando pra mim que passaria. Ela é doce.
-Ou ela não gosta de mim. Argumentou.
-E quem vai gostar de você, Saukerl? Ele abaixou a cabeça e enfiou os dedos no cabelo que ficava ainda mais vermelho por causa do sol, a menina seguia os dedos até o rosto de Peter e o erguia. Ele deu um sorriso fraco e logo depois abaixou. O silêncio invadia toda a rua Blumen, por mais que insistissem em gritar e xingar um ao outro, um silêncio grande prevalecia ali.  Frankie ajeitou o dorso, enquanto se arrumava na calçada de concreto.
-Ninguém gosta mesmo de mim, não é? Peter perguntava com os olhos que suplicavam por sua sinceridade.
- Sua mãe, seu pai, aquele seu amigo lá da escola. Todos gostam de você. –Larga de ser idiota, menino. Acrescentou.
-E você? Eu gosto de você, e exijo que isso seja completamente recíproco. Ele balançou a cabeça pra cima, fazendo sinal engraçado. Frankie riu.
-Mas é claro que eu gosto de você, Saukerl. Sempre gostei. Ele a olhou fitando todo o seu corpo, Peter ajeitava o dorso também e se levantava, puxando os braços da menina.  Ela suspirou.
-E eu acho bom gostar. Ele disse, como se estivesse debochando da cara deFrankie.
-Acho boníssimo, você gostar de mim também. A menina dizia erguendo o rosto e ajeitando a roupa. Pousou os cabelos rebeldes por detrás da orelha e desviou o olhar para o tão belo… Himmel. Deu um sorriso bonito p’ro menino, e encheu o peito com uma dose calorosa de felicidade.
-Wollen einen Kaffee? Esse pedido ainda está em cima? Ainda queres? Frankie sorriu.
-Recusar um café? Não. Eu quero, mas é você que vai pagar não é mesmo?
-Tá pensando o que, Saukerl? Tenho dinheiro não, e minha mãe não gosta de você. Não vai pagar um café para nós, agora trate de arrumar geld. Vá. Frankie deu um olhar arrogante e depois finalizou com um suspiro triunfante.